domingo, 29 de agosto de 2010

Atroz.

Lembro-me da infância que agora jazes nos resquícios de minhas lembranças.

Controlo meus movimentos com o auxílio de sedativos dos quais um dia nunca acreditei fazer uso.
O tempo, elemento atroz, não nos dá uma oportunidade fugaz e temos de nos confortar e sermos coniventes a ele.
"E assim é a vida: muitas vezes insatisfatória, freqüentemente cruel, em geral chata, por vezes linda e ocasionalmente estimulante. O prazer do desafio e a ansiedade da surpresa são apenas companhias efêmeras numa estrada com destino à solidão".

A vida é um ciclo que sempre nos leva ao desapontamento, desapontamento esse vitalício.
Porquanto vivemos à vontade de Deus.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ode a ti.

É você quem abre meus olhos, para tudo aquilo que eu não quero ver.
Por ti serei eterenamente grato pois conseguiste conquistar-me eternamente e assim fazer-me feliz a cada segundo.
Ensinou-me a caminhar, por um mundo onde julgam-lhe a todo instante.
Abro os braços pra te receber a cada nosso reencontro diário.
E no nosso sistema lunar, a minha estrela brilhará sempre perto de ti, roubando toda a sua luz.
Exalto tua benevolência, que enternece minh'alma.
Sua preocupação em mudar o mundo, para que a dois possamos desfrutar de um paraíso do qual ninguém um dia imaginara.

Segundos, horas, dias, semanas, anos, décadas, séculos, que precedem uma eternidade junto a ti.

Tráfego rumo a extinção.

Estava ali inerte.
Sentia-se em um cárcere, agonizado por não encontrar uma saída. Outros tantos junto a ele, também não suportavam tal martírio.
Começara a orar, todavia seu  único pedido não fora atendido. Então ele permanecera ali por horas e a raiva já tomara-lhe conta.
No momento em que olhara, o relógio marcara 7:07, de uma noite que parecia não ter fim. E literalmente não teria.  Pois o destino escolhera tal dia para começar sua devastação.
As horas tornaram-se dias, e a massa humana aglomerara-se cada vez mais.
Os dias tornaram-se semanas, e a essa altura alguns já haviam ficado pelo caminho, por um caminho onde não era possível transitar.
Os dias tornaram-se meses, e estes precederam a extinção, pois todos que ali restavam, já não viam uma solução, entretanto a culpa fora destes próprios.
Os meses tornaram-se a eternidade, e já não havia mais ninguém.

E o homem tornara-se obsoleto.

domingo, 22 de agosto de 2010

O revés de outono.

Entrelaçavam-se os braços anunciando um fim.

O outono chegara e trouxera consigo a dor da partida. Sua fortaleza encontrava-se em ruínas, o amor perdurara até aquele infame momento.
Os braços entrelaçados fortemente, que compunham um abraço, deixaram-se por um instante e deram lugar a olhares cheios de lágrimas. As palavras nunca foram e nunca serão capazes de serem proferidas nos momentos em que só o coração consegue falar.
Todas as preces por uma abdicação sua foram em vão, e ele se sente aos pedaços, sem seu refúgio.
Desde aquela despedida, desde aquele outono, a vida dele tornara-se um tormento, e intercala as passagens, ora depara-se com a morte, ora com a solidão, ambas na obscuriedade de sua mente.

E na parede do quarto onde se isolara, arranhara com as unhas os seguintes manuscritos:
"Sinto falta do meu lugar e do conforto de seus braços".

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O homem e a solidão.

E assim ele carrega seu fardo, composto pelo ódio e o desdém que conduziram a ele.
Agora volta seus olhos ao mundo, jurando vingança à aqueles que o deserdaram.

Desmembrou-se da vida e fora a batalha, contra um exército numeroso que o farpeia covardemente.
Leva adiante; à frente da vista dos olhos toda a atenção de quem vive só. Vive só, na escuridão, pois fora onde conseguiste se redescobrir.
Peregrina nesta longa romaria, alheio à tudo o que acontece acerca de si. A percepção o faz abrir os olhos, e recebe o inimigo em território próprio.
Pois sua divindade o faz forte e ele carrega sua cruz, como há de ser.
Só ele sabe o quão afável é a solidão, que abraça-o como o filho prodígio.

Então, abre os braços e invoca todo poder que lhe é concebido.
Intrépido parte a mais uma batalha, contra os indigentes de alma, que incrédulos são derrotados.

Permanecem o homem e a solidão.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um coração, uma prece e uma vida.

Porque o amor se aloja num lugar tão vulnerável? Afinal a qualquer momento as palpitações podem cessar, rompendo com a realidade.

E isso é irreversível, entretanto deixar de viver não é opção certa, pois sua liberdade não pode ser atribuída como em um teste de vestibular, portanto faça presente em sua vida o bom e velho "carpe diem".
E coloque o coração à frente o número de vezes que for necessário, para ser esfaqueado, para ser baleado e principalmente para ser amado, pois sua fragilidade o dá força.

"Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, vem a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos deixei cair em tentação mas livrai-nos do mal.
Amém."

Profira estas palavras para saciar o coração, pois já esperam sua alma no recanto dos bem-aventurados.

domingo, 15 de agosto de 2010

O declive.

Não consigo sequer cogitar, a hipótese de te ver partir.

A vida, por vezes impia, regida pelo onisciente, prega-nos grandes surpresas inimagináveis, entretanto ainda não chegaste sua hora.
Ela já lhe mostrou todas as suas faces, já lhe ensinou tudo o que fora necessário saber nesta sua peregrinação, já a fez compreender qual seu veradeiro sentido, desde o longínquo ano de 1935. 

Mas minhas raízes ainda estão, e sempre permanecerão fincadas em teu ser alimentado-se da parte que um dia se ausentará, até o infame momento da permissão dele.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Gênesis.

"E foram todos os dias de Lameque setecentos e setenta e sete anos; e morreu."

A redundância, que tanto faz transbordar as palavras, mostra-se diáfana diante aqueles que compreendem a dialética do desconhecido.

A sabedoria é a perca da religiosidade, é o sacramento do rompimento com a divindade.

O nosso conhecimento ultrapassou barreiras e a gora estamos a mercê, inativos aos acontecimentos que precedem o fim.